fbpx

O Método das Três Linhas de Defesa

As organizações públicas operam em ambientes cada vez mais complexos, onde a necessidade de uma governança sólida e um gerenciamento de riscos eficaz é crucial. Para enfrentar esses desafios, o Instituto dos Auditores Internos (IIA) atualizou o Modelo das Três Linhas de Defesa em 2020. Este modelo é uma ferramenta valiosa para ajudar as organizações a identificar estruturas e processos que auxiliem no atingimento de objetivos e facilitem uma governança robusta. Neste artigo, vamos detalhar os princípios e fundamentos do modelo, ilustrando sua aplicação na administração pública para que os estudantes possam utilizar esse conhecimento em sua preparação para concursos públicos e em suas futuras carreiras.

Princípios do Modelo das Três Linhas

Princípio 1: Governança

A governança de uma organização pública exige estruturas e processos que permitam:

  • Prestação de Contas: O órgão de governança deve ser responsável perante os stakeholders (cidadãos, órgãos reguladores, entre outros) pela supervisão da organização, demonstrando integridade, liderança e transparência.
  • Ações da Gestão: A gestão deve tomar decisões baseadas em riscos e aplicar recursos para atingir os objetivos da organização.
  • Avaliação Independente: A auditoria interna deve oferecer avaliação e assessoria independente para proporcionar clareza e confiança, promovendo a melhoria contínua.

Princípio 2: Papéis do Órgão de Governança

O órgão de governança deve garantir:

  • Estruturas Adequadas: Estruturas e processos eficazes para uma governança sólida.
  • Alinhamento com Stakeholders: As atividades e objetivos da organização devem estar alinhados com os interesses dos stakeholders.
  • Delegação de Responsabilidades: Responsabilidades e recursos devem ser delegados à gestão para alcançar os objetivos organizacionais.
  • Supervisão da Auditoria Interna: Estabelecer e supervisionar uma função de auditoria interna independente, objetiva e competente.

Princípio 3: Gestão e Papéis da Primeira e Segunda Linhas

A gestão é responsável por atingir os objetivos organizacionais, dividindo suas funções em:

  • Primeira Linha: Direção e execução das operações diárias, incluindo a gestão de riscos diretamente associados à entrega de produtos e serviços.
  • Segunda Linha: Funções especializadas que fornecem suporte, monitoramento e avaliação de riscos, como conformidade, controle interno, segurança da informação, e sustentabilidade.

Princípio 4: Papéis da Terceira Linha

A auditoria interna deve:

  • Avaliação e Assessoria Independentes: Oferecer avaliações objetivas sobre a eficácia da governança e do gerenciamento de riscos.
  • Promoção da Melhoria Contínua: Facilitar melhorias contínuas através de processos sistemáticos e disciplinados.

Princípio 5: Independência da Terceira Linha

A independência da auditoria interna é essencial para garantir sua objetividade e credibilidade. Isso é alcançado por meio de:

  • Prestação de Contas ao Órgão de Governança: A auditoria interna deve ter acesso direto ao órgão de governança.
  • Acesso Irrestrito: Liberdade de acesso a informações, recursos e dados necessários.
  • Liberdade de Interferência: Independência no planejamento e execução das auditorias.

Princípio 6: Criando e Protegendo Valor

Para criar e proteger valor, todas as funções devem estar alinhadas aos interesses dos stakeholders, garantindo:

  • Comunicação Eficaz: Entre todas as linhas de defesa.
  • Cooperação e Colaboração: Para assegurar a coerência e a transparência das informações.

Aplicação do Modelo das Três Linhas na Administração Pública

Estrutura, Papéis e Responsabilidades

O Modelo das Três Linhas deve ser adaptado às necessidades específicas de cada organização pública. A estrutura organizacional e a atribuição de papéis são determinadas pela gestão e pelo órgão de governança. A independência da auditoria interna é fundamental para garantir a objetividade de suas avaliações.

Supervisão e Avaliação

O órgão de governança depende de relatórios da gestão, da auditoria interna e de outros para exercer a supervisão e alcançar seus objetivos. A gestão oferece uma avaliação valiosa sobre os resultados planejados, reais e previstos, enquanto a auditoria interna proporciona uma avaliação independente.

Coordenação e Alinhamento

A governança eficaz requer a atribuição clara de responsabilidades e um forte alinhamento das atividades por meio de cooperação, colaboração e comunicação. O órgão de governança busca confirmar, por meio da auditoria interna, que as estruturas e processos de governança estão operando conforme planejado.

Exemplo Didático: Implementação de um Sistema de Gestão de Resíduos Sólidos

Uma prefeitura de uma cidade média está implementando um novo sistema de gestão de resíduos sólidos para melhorar a coleta, o processamento e a disposição final do lixo. O projeto envolve múltiplos stakeholders, incluindo cidadãos, empresas de coleta de lixo, órgãos reguladores e ONGs ambientais.

Primeira Linha de Defesa: Gestão Operacional

Papéis e Responsabilidades:

  • Gestores de Projeto: Implementam o sistema e monitoram as operações diárias.
  • Funcionários de Coleta: Realizam a coleta e transporte dos resíduos.
  • Supervisores de Coleta: Garantem o cumprimento dos procedimentos.

Atividades:

  • Planejamento e execução das atividades diárias de coleta.
  • Monitoramento contínuo das operações.
  • Relatórios diários e semanais sobre a quantidade de resíduos coletados.

Segunda Linha de Defesa: Funções de Gerenciamento de Riscos e Conformidade

Papéis e Responsabilidades:

  • Equipe de Gerenciamento de Riscos: Identifica e avalia riscos.
  • Equipe de Conformidade Ambiental: Assegura a conformidade com normas ambientais.
  • Auditores de Conformidade Interna: Realizam auditorias regulares.

Atividades:

  • Análise e mitigação de riscos.
  • Monitoramento da conformidade ambiental.
  • Treinamento dos funcionários da primeira linha.

Terceira Linha de Defesa: Auditoria Interna

Papéis e Responsabilidades:

  • Auditores Internos: Avaliam a eficácia das duas primeiras linhas.
  • Chief Audit Executive (CAE): Reporta ao conselho municipal e ao prefeito.

Atividades:

  • Auditorias periódicas para avaliar controles operacionais e de conformidade.
  • Produção de relatórios detalhados com recomendações de melhorias.
  • Avaliação da adequação dos processos de gerenciamento de riscos.

Interações e Coordenação

Comunicação entre as Linhas:

  • A primeira linha reporta à segunda linha sobre atividades e desafios.
  • A segunda linha comunica resultados à terceira linha.
  • O órgão de governança recebe relatórios regulares da auditoria interna e da gestão.

A aplicação do Modelo das Três Linhas de Defesa na administração pública ajuda a prefeitura a gerenciar eficientemente o novo sistema de gestão de resíduos sólidos, garantindo a conformidade com as normas ambientais e mitigando riscos operacionais. Cada linha de defesa desempenha um papel crucial, proporcionando uma estrutura robusta para alcançar os objetivos organizacionais e proteger o interesse público.

Este artigo oferece uma base para que vocês compreendam e apliquem o Modelo das Três Linhas de Defesa nas questões de concursos que tem abordado o tema com certa frequência em Gestão de Riscos.

Adaptação do Modelo de Três Linhas de Defesa

O modelo de três linhas pode ser adaptado de acordo com as necessidades e especificidades da organização, incluindo a introdução do controle externo como uma possível terceira linha de defesa. O modelo apresentado pelo Instituto dos Auditores Internos (IIA) é uma referência amplamente aceita, mas não é a única forma de estruturar o gerenciamento de riscos e governança dentro de uma organização. Vamos explorar como isso pode ser feito.

Modelo Adaptado das Três Linhas de Defesa com Controle Externo

Primeira Linha de Defesa: Gestão Operacional

Papéis e Responsabilidades:

  • Gestores de Processo e Operações: Implementam e mantêm controles internos para gerenciar riscos diretamente associados às operações diárias.
  • Funcionários Operacionais: Executam atividades operacionais seguindo procedimentos estabelecidos e reportam incidentes e riscos.

Atividades:

  • Execução de tarefas e processos operacionais.
  • Monitoramento contínuo e relatórios de desempenho.
  • Identificação e mitigação de riscos operacionais no dia a dia.

Segunda Linha de Defesa: Funções de Gestão de Riscos e Conformidade

Papéis e Responsabilidades:

  • Gestão de Riscos e Conformidade: Fornece orientação, ferramentas, e monitoramento especializado para ajudar a primeira linha a gerenciar riscos e garantir conformidade com leis e regulamentos.
  • Controle Interno e Segurança: Monitora e verifica a eficácia dos controles implementados pela primeira linha.

Atividades:

  • Desenvolvimento de políticas e procedimentos.
  • Monitoramento e análise de riscos.
  • Revisão de conformidade e auditorias internas regulares.

Terceira Linha de Defesa: Auditoria Externa e Controle Externo

Papéis e Responsabilidades:

  • Auditoria Externa: Realiza avaliações independentes sobre a eficácia das duas primeiras linhas e fornece relatórios aos órgãos de governança externos.
  • Órgãos de Controle Externo (e.g., Tribunal de Contas, Auditoria Governamental): Realizam auditorias externas e independentes, garantindo a prestação de contas à sociedade e verificando a conformidade com as normas legais e regulatórias.

Atividades:

  • Auditorias externas periódicas.
  • Revisão e avaliação da eficácia das políticas de gestão de riscos e controles internos.
  • Relatórios de auditoria apresentados aos órgãos de governança e stakeholders externos.

Benefícios da Inclusão do Controle Externo

  1. Independência e Objetividade: A auditoria externa, por ser independente das operações da organização, pode fornecer uma avaliação objetiva da eficácia dos controles internos e do gerenciamento de riscos.
  2. Transparência e Prestação de Contas: Os relatórios de auditoria externa promovem a transparência e fortalecem a prestação de contas à sociedade e aos stakeholders.
  3. Conformidade Regulatória: O controle externo ajuda a garantir que a organização esteja em conformidade com todas as leis e regulamentos aplicáveis, minimizando riscos legais e regulatórios.
  4. Melhoria Contínua: As recomendações de auditoria externa podem identificar áreas de melhoria nos processos internos e no gerenciamento de riscos, contribuindo para a melhoria contínua da organização.

Embora o modelo das Três Linhas de Defesa do IIA seja uma referência sólida, ele pode e deve ser adaptado para atender às necessidades específicas de diferentes organizações. A inclusão do controle externo como uma terceira linha pode ser particularmente útil em organizações públicas ou em setores altamente regulamentados, onde a transparência e a prestação de contas são cruciais. Esta adaptação do modelo permite uma abordagem mais abrangente e robusta para a gestão de riscos e a governança, garantindo que todos os aspectos da organização sejam monitorados e avaliados de forma eficaz.

Leitura complementar: Modelo das Três Linhas do IIA – 2020

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.